sexta-feira, 16 de março de 2018

Ney Matogrosso secos e Molhados

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Deslumbrante como só ele sabe ser, Ney Matogrosso já é uma das figuras mais
notáveis da música brasileira. A forma como se apresenta ao vivo e os temas inusitados que
 todos conhecemos valeram ao artista o reconhecimento da crítica e do público como uma das mais
importantes vozes da sua geração. Por todo o sucesso que lhe é associado, mas também pela
assinatura vocal e única, Ney Matogrosso foi mesmo considerado pela revista Rolling Stone como a terceira melhor voz que o Brasil já conheceu, e o trigésimo melhor artista do seu país.
Em seu DVD "Canto em qualquer Canto" revisitou temas antigos de preferência do cantor, vestindo-os com novos arranjos e sonoridades mais calmas. À margem da conversa, não podia ficar o próprio estilo exuberante de Ney Matogrosso, nem tão pouco a sua força cultural que moveu consciências e deu voz a causas como a liberdade sexual. Na altura com 65 anos – segundo o próprio”bem vividos” – o artista falou de mentalidades, de crescimento e de evolução.

Secos & Molhados foi um grupo vocal brasileiro da década de 1970 cuja formação clássica consistia de João Ricardo (vocais, violão e harmônica), Ney Matogrosso (vocais) e Gérson Conrad (vocais e violão). João havia criado o nome da banda sozinho em 1970 até juntar-se com as diferentes formações nos anos seguintes e prosseguir igualmente sozinho com o álbum Memória Velha (2000) onde o Ney Matogrosso começou a sua carreira.

No começo, as apresentações ousadas, acrescidas de um figurino e uma maquiagem extravagantes,
 fizeram a banda ganhar imensa notoriedade e reconhecimento, sobretudo por canções como "O Vira", "Sangue Latino", "Assim Assado", "Rosa de Hiroshima", que misturam danças e canções do folclore português como o Vira com críticas à Ditadura Militar e a poesia de Cassiano Ricardo, Vinícius de Moraes, Oswald de Andrade, Fernando Pessoa, e João Apolinário, pai de João Ricardo, com um rock pesado inédito no país, o que a fez se tornar um dos maiores fenômenos musicais do Brasil da época e um dos mais aclamados pela crítica nos dias de hoje.

Seu álbum de estréia, Secos e Molhados I (1973), foi possível graças às tais performances que despertaram interesse nas gravadoras, e projetou o grupo no cenário nacional, vendendo mais de 700 mil cópias no país. Desentendimentos financeiros fizeram essa formação se desintegrar em 1974, ano do Secos e Molhados II, embora João Ricardo tenha prosseguido com a marca em Secos & Molhados III (1978), Secos e Molhados IV (1980), A Volta do Gato Preto (1988), Teatro? (1999) e Memória Velha (2000), enquanto Gérson continuou a tocar sozinho. Do grupo, Ney Matogrosso é o mais bem-sucedido em sua carreira solo, e continua ativo desde Água do Céu Pássaro (1975).

Os Secos & Molhados estão inscritos em uma categoria privilegiada entre as bandas e músicos que levaram o Brasil da bossa nova à Tropicália e então para o rock brasileiro, um estilo que só floresceu expressivamente nos anos 80. Seus dois álbuns de estréia incorporaram elementos novos à MPB, que vai desde a poesia e o glam rock ao rock progressivo, servindo como fundamental referência para uma geração de bandas underground que não aceitavam a MPB como expressão. O grupo continua a ganhar atenção das novas gerações: em 2007, a Rolling Stone Brasil posicionou o primeiro LP em quinto lugar na sua lista dos 100 maiores discos da música brasileira e em 2008 a Los 250: Essential Albums of All Time Latin Alternative - Rock Iberoamericano o colocou na 97ª posição.


MAESTRO LUCIVÂNIO J.L.
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