pede à empresária que se sente a seu lado. Agarra-lhe na mão ainda mais firme, os dedos acariciando-se entrelaçados. “A Luciana está comigo há oito anos. Tinha eu 19”, confirma o romance. Quando, no final de 2005, fez questão de afirmar ao Brasil a sua condição de bissexual, aquilo em nada me surpreendeu. Só achei que ela estava tão farta que falassem mais dela que da sua música que decidiu reabrir um pedaço da sua intimidade.
Depoimentos emocionados de Ana Carolina chora e confessa: “Faço terapia e análise. Estou a resolver-me”. A vida nem sempre foi minha aliada. “Quando, no dia 1 de Maio de 2001, tive um acidente horrível no Rio de Janeiro, pensei que ia morrer. Adormeci no volante e não deu outra o carro foi para a sucata e eu fiquei meses no hospital. Tive várias fraturas, fiquei com 30 pontos na cabeça.
Depois disso, passei a enfrentar o palco não como um ato heróico mas com piedade de mim.
Quando se chega perto do outro lado("o lado da morte"), observa-se com outros olhos para a vida”.
Estamos num restaurante da ribeira de Gaia rodeados de mulheres tal como no disco que tinha
acabado de lançar, “Ana Rita Joana Iracema e Carolina”, fica sem jeito quando lhe pergunto se trata de um manifesto feminista, alguém apontou uma frase e fiquei a comparar: “o caminho sinuoso do rio também precisa das duas margens para ser rio”.
Bate a dúvida se fico tímida ou angustiada, concentro-me na voz, imensa, um certo sentir de coqueluche, postura de quem tinha acabado de chegar ao desejado patamar da fama sem saber se o queria. Já o jantar ia a meio e ela ainda a olhar-me de lado, ombros encostados à cabeça inclinada para a mesa farta de presuntos e enchidos aos montes e logo fiquei com ar de agoniada.
Ao lado, a empresária, festinhas na cabeça, “ocê tá bem?”, por baixo da mesa as mãos entrelaçadas.
E ela, variando do romântico ao agressivo em referências que vão direitinhas às inconstâncias das mulheres, não negando que o universo feminino “está presente em tudo o que faço. Porque sou de contrastes. Sou quente e sou fria. Sou muito masculina e muito feminina. Procuro o homem que há em mim e a mulher que há no homem”.
MAESTRO LUCIVÂNIO J.L.
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