sexta-feira, 16 de março de 2018

Martinho da Vila e o Samba como símbolo

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Martinho da Vila pode ser natural do Brasil, mas em Portugal não há quem não conheça este mestre da música brasileira. Filho de lavradores, Martinho da Vila mudou-se quando tinha quatro anos para o Rio de Janeiro, deixado para trás a fazenda onde tinha nascido e vivido os primeiros anos de vida (e que anos mais tarde comprou e é hoje a sua casa de férias fora do Rio).
Foi assim, na grande cidade, que começou a dar as primeiras pisadas pelo mundo do samba.

O estrelato começou em meados de 1967(sim, foi aquela noite de 67) quando, depois de apresentar a música Menina Moça no II Festival da Record, foi aplaudido e reconhecido pelo seu sucesso. Hoje, é sem dúvida um nome respeito na cultura brasileira, tendo sido mesmo o segundo sambista a vender mais de um milhão de cópias com o álbum Tá Delícia, Tá Gostoso, em 1995.

Questionado sobre o balanço que sua carreira faz Martinho da Vila respondeu "não costumo fazer nenhum balanço. Na minha perspectiva, a vida artística é a mais instável que existe. Quando acabo de gravar um disco digo para mim: “vou terminar o contrato com a editora, canto por mais um ano e depois vou parar”. Mas isso acaba por não acontecer, porque a editora telefona
para renovar o contrato e eu continuo. Tenho conseguido alcançar um sucesso quase todos os anos, com altos e baixos, mas em geral o meu trabalho é sempre muito bem aceito. No início era um pouco estranho, mas agora já estou mais familiarizado, apesar de saber que é algo que pode ser passageiro.

No Brasil não existem muitos artistas a fazer discos todo o ano com sucesso, à excepção
 do Roberto Carlos e eu. A partir daí as coisas param um pouco. Eu faço um álbum e penso parar.
Mas a cabeça está sempre a funcionar e vão surgindo novas ideias para um disco… e não dá outra, acabo por gravar. A música é tão fantástica que qualquer pessoa que entre no meio não consegue sair mais. Mesmo os cantores que não têm muito sucesso fazem tudo para estar ligados à música. Trabalham numa empresa de produção de espetáculos ou a fazer composições ou trabalham mesmo em jornais onde podem escrever sobre música. Antes da minha chegada ao mercado o samba era muito bem visto, mas não era música de consumo generalizado. O meu primeiro disco foi recordista nacional e a partir daí surgiram outros cantores que chegaram ao mesmo patamar de vendas. O gênero não era visto como música para grandes eventos e eu consegui que isso se alterasse.

 Para mim passar por PORTUGAL é "obrigatório", porque existe muita afinidade. Gosto muito de Portugal, da comida, do vinho, dos mariscos… Além disso, quando estou aqui não me sinto um estrangeiro, porque é como se Portugal fosse uma parte do Brasil. Por vezes, sinto-me mais deslocado quando viajo dentro do meu próprio país. E o Brasil tem uma grande variedade de música e um número infinitamente maior de artistas e de população. Por exemplo, nós adoramos o vinho português, mas vocês não recebem o vinho que nós fazemos, porque têm em maior quantidade. Não é só em relação a Portugal: com o resto do mundo acontece a mesma coisa. O que os portugueses
precisam é que as editoras portuguesas se interessem pela divulgação de determinado artista no Brasil. Se o Luís Represas grava um disco e a editora mostra interesse em promovê-lo no meu país, a música portuguesa acaba por fazer parte do mercado.

Logo a na maior parte das vezes são as editoras que não ajudam o artista nacional. Enquanto que as nossas editoras e os empresários se empenham em promover o nosso
 trabalho em Portugal, o mesmo não acontece em sentido contrário, apesar do mercado português ser muito pequeno comparado ao Brasil. O ponto fundamental é incentivar as editoras e os empresários a pegar num artista e lançá-lo no Brasil. E quando digo “lançá-lo” não é apenas gravar um disco e fazer meia dúzia de espetáculos: É fazer o que eu faço aqui, falar com a imprensa, ir à televisão e às rádios. Quando alguém tiver essa vontade as coisas podem melhorar. Há algum tempo atrás, a música portuguesa estava em grande no Brasil. Por tradição, quase todo o samba tem uma dose de melancolia. O samba fala de problemas do dia-a-dia, do amor, das decepções, da vida… Mas todas estas coisas são contadas e cantadas de uma maneira muito alegre. E é essa a diferença que existe entre o fado e o samba. Por exemplo, quando a minha mãe faleceu eu estava em Portugal e, na altura, em que a família se reuniu ninguém falou dela com tristeza, mas sim com muita alegria e recordando histórias que se passaram com ela.



MAESTRO LUCIVÂNIO J.L.
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